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Sem querer, professor leva sala inteira para conhecer a praia em Florianópolis

Fofoca Pedagógica

Edição N.º 17 - Junho 2022

“Ninguém começa a ser educador numa certa terça-feira às quatro da tarde. Ninguém nasce educador ou marcado para ser educador. A gente se faz educador, a gente se forma, como educador, permanentemente, na prática e na reflexão sobre a prática”. A citação é do nosso amado Paulo Freire, e é assim que começamos a Fofoca Pedagógica deste mês.


​Afinal, a história que vamos contar hoje tem tudo a ver com a formação de um professor e com o quanto a vida desse educador de Santa Catarina mudou há 8 anos. Tudo começou quando ele decidiu ir além do conteúdo programado para a sua disciplina e, com um projeto despretensioso, impactou para sempre a vida de todos os alunos de uma sala de aula da Escola de Educação Básica Isidoro Silva, no município de Anita Garibaldi.


Carlos Eduardo Canini, na época, era professor de inglês e vivia incomodado com a dificuldade que seus estudantes tinham com a língua estrangeira. Contudo, uma preocupação ainda maior o atormentava: a evasão escolar. A Isidoro Silva é uma escola do interior de Santa Catarina e uma parte considerável de jovens do ensino médio abandonavam os estudos naquela escola para irem trabalhar, geralmente na pecuária ou na agricultura local.


​Um dia, o professor Cadu se deparou com um concurso de redação com o tema “Corrupção, e eu com isso?”, promovido pelo Projeto “TCE na Escola” — uma iniciativa do Tribunal de Contas de Santa Catarina, em parceria com a Secretaria de Estado da Educação (SED). Ele diz que o projeto o interessou, que pediu o aval do professor de Língua Portuguesa, e começou a desenvolver diversas atividades e oficinas, no sentido de aprimorar as suas habilidades em escrita da sala— o que ajudaria, inclusive, a melhorar resultados obtidos na disciplina de Língua Inglesa.​


“Tive que desenvolver várias estratégias diferenciadas para que eles não desanimassem e não deixassem de cumprir as etapas do projeto. Foi bem desafiador, mas as atividades eram dinâmicas e os alunos acabaram gostando da estrutura das aulas, e foram realizando as tarefas — mais no sentido de não desapontar o professor, que no sentido de encontrar um significado na vida deles ou achar que aquilo repercutiria em algo concreto”, conta o professor Cadu. ​


Ao final do projeto, era solicitado, às escolas envolvidas, o envio de uma redação que representasse o trabalho que foi feito. Então, o professor Cadu decidiu, em comum acordo com as salas do primeiro ano do ensino médio, que iria enviar para a organização do concurso a redação da aluna Alana Raissa dos Santos, que tinha apenas 15 anos. O título da redação de Alana era “Mudaremos essa sociedade corrupta?” e seu texto falava sobre as pequenas corrupções diárias que existem em nossa sociedade. 


O resultado imediato da aplicação desse projeto em sala de aula foi, sim, o amadurecimento do texto dos alunos envolvidos. Porém, o que chocou toda a escola, e também o professor Cadu, é que o texto de Alana foi muito bem avaliado pela organização do concurso estadual de Santa Catarina.


​“Ele não só foi classificado entre os melhores, mas escolhido como o melhor texto enviado! Soube do resultado quando estava chegando na cidade, e gritei dentro do ônibus mesmo! Era algo completamente inimaginável, demorou para cair a ficha”, conta o professor, que havia trabalhado o tema despretensiosamente, focado apenas em aprimorar a habilidade textual da sala. “Foi como uma final de Copa do Mundo, tamanha a euforia na direção, entre os professores, os alunos, os familiares deles”, lembra.​


“Só depois disso, é que fomos olhar a premiação: toda a turma do texto produzido em primeiro lugar ganharia uma viagem!”, conta o professor. E foi assim que o professor Carlos Eduardo levou uma turma inteira de adolescentes do interior de Santa Catarina para conhecer Florianópolis. “Muitos deles não conheciam a praia e o maior prêmio, para eles, foi pisar na areia, ver o mar. Foi muito significativo”, afirma. 


“Toda essa vivência me fez pensar o quanto não valorizamos os pequenos atos no dia a dia, e me fez refletir o valor que se tem em ser professor. Olhar para o aluno e perceber talentos que eles nem sabem que têm”, diz Carlos Eduardo. “Depois disso, essa turma passou a ter um desempenho diferenciado e, para a nossa grande alegria, todos concluíram o ensino médio. A maioria conclui também o ensino superior, sendo o primeiro da família a se formar em uma faculdade”, conclui.​


Inspirador, não é? Que essa fofoca faça você repensar sobre a importância da nossa profissão e, mais uma vez, lhe desperte o orgulho em ser professor. São histórias como essas que nos atravessam de forma significativa e nos fazem acreditar que, sim, ainda temos muito trabalho pela frente, mas estamos no caminho certo.

REVISTA

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