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Por muito tempo, existiu-se um senso comum que pregava que o corpo físico era totalmente desconectado da mente humana. Por isso, muitos de nós crescemos sem preocupações quanto à saúde mental, focando energias e cuidados médicos apenas na “máquina que nos move”, essa estrutura corporal que, segundo aquela velha teoria, segue as “ordens” do nosso cérebro. 

Ainda bem que evoluímos! Hoje, a própria OMS ressalta em todas as suas comunicações que saúde, na verdade, compreende o completo bem-estar físico, mental e social. Ou seja, não há saúde plena se vivermos isolados socialmente, se descansarmos menos que o necessário, se nos alimentarmos mal, se não respeitarmos e entendermos as nossas emoções, se não nos exercitarmos ou ainda se cultivarmos relacionamentos tóxicos uns com os outros. 

 

Em agosto, buscamos uma compreensão um pouco mais profunda do nosso corpo — como um todo. Por isso, começamos o mês conversando com uma especialista em psicomotricidade, que nos apresentou melhor a relação corpo e mundo. Na sequência, falamos sobre bem-estar, e descobrimos que não dá para pensar em emoções sem entender os sinais físicos que o nosso corpo nos dá. 

Para fechar o mês, trouxemos um vídeo didático sobre estereótipos de gênero — que pode ser usado inclusive em sala de aula, professor. Além disso, os nossos já queridos e conhecidos colunistas nos presentearam mais uma vez com conteúdos exclusivos de fazer os pêlos do braço arrepiar, o coração disparar, o olho brilhar e a mente refletir. 

Pronto para ler mais uma edição da cabeça aos pés?

Um beijo

Professora Fique Bem

EDITORIAL
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Impactos da quarentena no nosso corpo 

CORPO

Como diferenciar um beliscão de um carinho? Você sabe quando o seu abraço deixa de ser gostoso e começa a virar um apertão dolorido no outro? É difícil de verbalizar, mas a gente sabe, né? A gente sente, pois é questão de experiência.

Imagine agora que você é uma pessoa que ficou sozinha, isolada das outras. Alguém que não interagiu pessoalmente com quase ninguém, por cerca de um ano. Imagine, mas só imagine, que você apenas interagiu com pessoas de forma virtual e que não abraçou ninguém por meses. Para muita gente, a pandemia do coronavírus criou exatamente essa situação. Será que o hiato de contato com o outro impactou a nossa percepção de como tocar em alguém? De como ser tocado?

LIVE: CORPO E PANDEMIA

Segundo a professora Rita Galante, educadora corporal do Colégio Sidarta, a pandemia afetou o nosso corpo de uma maneira que poucos de nós teve consciência. Ela, que foi a nossa convidada na primeira Live Fique Bem do mês de agosto, é expert no assunto, licenciada em dança pela Faculdade Paulista de Artes, especialista em dança e consciência corporal e pós-graduanda em psicomotricidade pelo ISPEGAE-OIPR. 

Rita nos explicou que, para muito além da relação interpessoal, a psicomotricidade nos ajuda a viver, pois é a ciência que estuda o ser humano, através do seu corpo em movimento e a sua relação com o mundo. Apesar do nome difícil, a psicomotricidade estuda o nosso desenvolvimento como seres corporais. “Nessa área, eu encontrei a fundamentação teórica para os questionamentos que eu já tinha. Antes, eu fazia as coisas de forma intuitiva e agora eu as faço de forma científica”, reflete.

A conversa ainda parece abstrata para você? Então, me conte: por que muita gente sabe pegar em um lápis, mas tem dificuldade com os tais dos palitinhos chineses? Aliás, depois de tanto tempo atrás de uma tela, você acha que algum dos seus alunos perdeu a prática da escrita motora? Como resolver isso? Quantas questões!

“Eu sempre fui a pessoa que queria falar e o professor brigava comigo, falava ‘Rita, fica quieta, presta atenção!’ e eu queria debater”, conta a especialista. “O que eu penso é o seguinte: se a gente quer que a pessoa performe, em números, em vestibular, em nota, nada melhor que a psicomotricidade também. Porque, assim, você vai aprender como é que o seu aluno aprende”, continua. “Eu não quero mais perder nenhum aluno no processo de aprendizagem”, conclui a educadora.

 

A conversa de uma hora com Rita foi de muito aprendizado. O papo passou por dicas super detalhadas de como trabalhar a psicomotricidade com crianças pequenas; momentos emocionantes voltados aos sonhos de uma educadora que, quando criança, teve dificuldades em se adaptar a uma escola tradicional; exercícios práticos para aliviar a tensão muscular; e ainda uma história muito inspiradora de como uma menina de seis anos, sentada sozinha em uma escola nova, conheceu sua paixão por observar o movimento do corpo alheio. 

 

Se prepare, adote uma posição confortável e dê o play. Tenho certeza que essa live vai lhe emocionar e lhe ensinar algo novo sobre o corpo humano — ou sobre o estado do seu próprio corpo nesse exato momento. Por fim, anote as dicas: se organize no espaço e module o tônus! A sua versão do futuro agradece.

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Segredos para a manutenção de um bem-estar digno de medalha olímpica

BEM-ESTAR

Neste mês de Olimpíadas, assistimos diversos atletas superando desafios, encontrando alternativas para fazer mais pontos e ultrapassando obstáculos e metas que pareciam impossíveis. Foi demais, não foi? Os vitoriosos levaram medalhas para casa, foram exaltados e parabenizados… uma festa! Contudo, se fizermos um paralelo, perceberemos que todos nós vivemos uma espécie de olimpíada diária — aquela cujas superações são anônimas. Todos os dias, cada um de nós ultrapassa barreiras e obstáculos que nos levam a uma medalha de ouro pessoal.

LIVE: BEM-ESTAR E EQUILÍBRIO EMOCIONAL

A metáfora acima veio à luz na segunda semana de agosto, quando o Fique Bem recebeu em sua live a neurocientista Elisa Kozasa. Ela é pesquisadora do Instituto do Cérebro do Hospital Israelita Albert Einstein e professora titular do Programa Acadêmico em Ciências da Saúde da Faculdade Israelita de Ciências da Saúde Albert Einstein. Com um currículo bastante extenso, Elisa é a primeira fellow do Mind and Life Institute nomeada na América Latina e possui graduação em Ciências Biológicas pela USP, além de doutorado e pós-doutorado pelo Departamento de Psicobiologia da Unifesp.

O assunto das Olimpíadas veio à tona no início da nossa conversa com Elisa porque a pesquisadora chegou a participar ativamente do treinamento emocional de atletas do skate e do surfe olímpico. Segundo ela, porém, o trabalho feito com essas pessoas não é tão diferente do trabalho que pode ser feito com qualquer outro. “Tenho que lembrá-los de que não são máquinas, mas seres humanos”, diz ela, que reforça a necessidade de um bom autoconhecimento na gestão das emoções e na manutenção de um bem-estar psicológico.

“Boa parte das nossas dificuldades passam e nos atropelam porque a gente não percebe o que está, de fato, acontecendo conosco. Uma das maneiras de manter a sanidade é entender o que a gente está sentindo, dizer em palavras, escrever… Quanto mais clara está a sensação, mais fácil de trabalhar com ela”, continua Elisa. “Diga para si mesmo o que está acontecendo, até você perceber que talvez precise de ajuda. Pode ser de um amigo ou de um profissional”, conclui.

 

Quando a pesquisadora fala em “perceber”, ela se refere à percepção corporal mesmo, física. Você chega a fazer essa checagem quando você está passando por alguma situação difícil? Suas mãos suando, seu coração disparado, suas dores nas costas… podem dizer muito mais a você do que você está, de fato, escutando. 

 

O encontro com Elisa nos deu novas perspectivas sob muitos aspectos, mas um deles — talvez o mais inesperado — foi o aspecto linguístico. A neurocientista explicou que a palavra “angústia” pode ser traduzida como “um sofrimento sem clareza”; assim como a palavra “desespero” pode ser entendida como “um sofrimento sem sentido”. Além disso, há certas práticas que precisam ser “cultivadas”, pois exigem paciência como a de quem cultiva uma horta. E há elogios que são pouco usados, mas que trazem consigo grandes qualidades, como chamar uma pessoa de “generosa”, “atenciosa” ou “honrada”.

 

No entanto, apesar de boa com as palavras, nossa convidada também é a maestra do silêncio. Ao fim do nosso encontro, ela aplicou uma prática de autocuidado e trouxe paz aos corações de toda a audiência com poucas, mas assertivas, declarações. Assista ao encontro completo, deixe-se banhar com esse bate-papo e reflita — mas não esqueça que a reflexão, assim como diz Elisa, não finda em si mesma. Ela demanda uma ação subsequente.

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Sem divisões entre o que é de 
menina ou de menino

COISA DE MENINA E MENINO

Afinal, professor, temos uma pergunta para você que vive rodeado de estudantes de todos os gêneros: existem coisas que são exclusivamente de meninas e coisas que são apenas de menino? Em pleno século 21?

VÍDEO: COISA DE MENINA E DE MENINO

Na terceira semana do mês de agosto, o Fique Bem elaborou e publicou um vídeo voltado a esse assunto, inspirado em um texto da nossa colunista sobre feminismo, a professora Gina Vieira Albuquerque.

No vídeo, que foi publicado em formato de animação tanto no nosso Youtube quanto no nosso Instagram, são levantados argumentos que mostram que o preconceito de gênero é danoso para todos. O machismo é ruim para as mulheres — que são colocadas em uma posição de inferioridade ao sexo oposto — e para os homens — que são moldados sob uma masculinidade tóxica que os desumaniza. 

O Fique Bem espera que vídeos como esse ajudem os professores a tratarem do assunto com seus alunos, mesmo com os mais novinhos. Afinal, a escola é um espaço que pode reforçar ou questionar estereótipos de gênero, desde a infância. Qual a sua posição quanto a isso?

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Colunas

FEMINISMO

Como promover uma prática pedagógica antissexista na educação infantil e nas séries iniciais

Feminismo
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Gina Vieira Pontes

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Ceilandense, professora da educação básica no DF há 29 anos. Mestra em Linguística, especialista em Desenvolvimento Humano, Educação e Inclusão Escolar e em  EAD. Autora do Projeto Mulheres Inspiradoras.

No embalo do encerramento das Olimpíadas de Tóquio, trago aqui para a nossa conversa deste mês mais uma reflexão sobre como promover uma educação que se dê em e para os direitos humanos, pensando especificamente o trabalho voltado para as relações de gênero nas séries iniciais. Nos últimos anos, com a quarta onda do feminismo e com a democratização do debate sobre o tema, impulsionada pelas redes sociais, mais docentes e famílias passaram a estar preocupados com uma educação que estimule o pleno desenvolvimento das meninas, e que apoie os meninos para a construção de masculinidades insurgentes. E, quando falamos da primeira infância e das meninas, sempre ouço a pergunta: “Mas, qual o problema de as meninas quererem ser princesas? Por que as feministas condenam os Contos de Fada? Por que elas dizem que as meninas não podem sonhar em ser princesas?

Para responder a esta pergunta, vou trazer para o nosso diálogo, a imagem da Rayssa Leal, campeã olímpica de Skate, que se tornou conhecida por fazer manobras radicais, vestida de fadinha! A imagem da Rayssa fazendo as suas performances incríveis, sem abrir mão do sonho de ser fada é a celebração de uma educação que liberte a todos nós dos estereótipos de gênero. Não há problema em que as meninas sonhem em ser princesas e fadas. Inclusive, é fundamental lembrar da importância dos contos de fada para a elaboração dos conflitos internos, para a organização da nossa existência. As narrativas têm um papel imprescindível na construção da nossa subjetividade.

 

Mas, é necessário destacar que elas são situadas histórica e politicamente, e mais ainda, é importante lembrar o que diz Salman Rushdie, quando afirma: “Ideias, textos, até mesmo pessoas podem se tornar sagradas...mas embora essas entidades, uma vez estabelecida sua sacralidade, busquem proclamar e conservar seu próprio caráter absoluto, sua inviolabilidade, o ato de torná-los sagrados é, na verdade, um evento histórico... E os eventos históricos devem estar sujeitos ao questionamento, à desconstrução, até mesmo à decretação de sua obsolescência (...) (Silva, 1997, p.129). O problema dos Contos de Fada, em especial aqueles produzidos pela Disney, é que eles atuam como Pedagogias Afetivas, definem que identidades são permitidas para as meninas. A questão, portanto, não é querer ser princesa, mas ser a princesa definida pelo patriarcado, um sistema de opressão que privilegia, celebra e promove a mulher que se silencia, que obedece, que anula a si mesma em nome de ser escolhida pelo príncipe, e que reduz a sua existência e os seus projetos de vida ao espaço doméstico.

As imagens congeladas de princesas dóceis e subservientes, que têm como possibilidade identitária para si mesmas, projetos atrelados a serem escolhidas por um príncipe, precisa dar lugar a outras imagens- imagens de fadas e princesas como as que a Rayssa materializou, fadas fortes e corajosas que fazem manobras radicais, princesas que sonham em viajar o mundo ou em se tornarem grandes cientistas, princesas que podem viver plenamente o seu potencial, sem serem constrangidas a se encaixar em expectativas que as limitam. Princesas e fadas que sonhem com tudo isso, e também em casar-se e ter filhos, a partir de uma escolha lúcida, e não em função dos constrangimentos de uma cultura sexista e patriarcal.

 

A infância é um terreno sobre o qual todos nós seguiremos caminhando pelo resto de nossas vidas. Promover projetos pedagógicos voltados às relações de gênero não significa desprezar que a infância é o momento para estimular a imaginação, a criatividade, os sonhos, apresentar o que a vida tem de bonito. Não podemos parar de contar histórias para as meninas e para os meninos, mas precisamos cuidar de que o conteúdo que estamos levando para eles e elas não esteja a serviço de aspectos negativos da nossa cultura. Como nos adverte Silva (1997), “(...) a Pedagogia é uma prática cultural que deve ser responsabilizada ética e politicamente pelas estórias que produz, pelas asserções que faz sobre as memórias sociais e pelas imagens de futuro que considera legítimas.” Se queremos um futuro em que as meninas tenham uma vida plena, livre de violências, e em que os meninos sejam capazes de promover masculinidades insurgentes, que se recusem à desumanização promovida pelas masculinidades hegemônicas, tóxicas, precisamos nutrir a infância de narrativas que anunciem este futuro.

Referências bibliográficas:

Silva. Praticando estudos culturais nas faculdades de educação. In: SILVA, Tomaz Tadeu (Org.). Alienígenas na sala de aula- uma introdução aos estudos culturais em educação. Ed. Vozes. 11º ed. Petrópolis. RJ, 2013.

RACISMO

Como promover uma prática pedagógica antissexista na educação infantil e nas séries iniciais

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Lorena Bárbara Santos Costa

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Professora da rede pública municipal dos municípios de Salvador e Lauro de Freitas (BA). Pedagoga pela UFOP e Pós-graduada em Psicopedagogia e em Pobreza e Desigualdade Social. Mestranda em Educação de Jovens e Adultos- UNEB.

No embalo do encerramento das Olimpíadas de Tóquio, trago aqui para a nossa conversa deste mês mais uma reflexão sobre como promover uma educação que se dê em e para os direitos humanos, pensando especificamente o trabalho voltado para as relações de gênero nas séries iniciais. Nos últimos anos, com a quarta onda do feminismo e com a democratização do debate sobre o tema, impulsionada pelas redes sociais, mais docentes e famílias passaram a estar preocupados com uma educação que estimule o pleno desenvolvimento das meninas, e que apoie os meninos para a construção de masculinidades insurgentes. E, quando falamos da primeira infância e das meninas, sempre ouço a pergunta: “Mas, qual o problema de as meninas quererem ser princesas? Por que as feministas condenam os Contos de Fada? Por que elas dizem que as meninas não podem sonhar em ser princesas?

Para responder a esta pergunta, vou trazer para o nosso diálogo, a imagem da Rayssa Leal, campeã olímpica de Skate, que se tornou conhecida por fazer manobras radicais, vestida de fadinha! A imagem da Rayssa fazendo as suas performances incríveis, sem abrir mão do sonho de ser fada é a celebração de uma educação que liberte a todos nós dos estereótipos de gênero. Não há problema em que as meninas sonhem em ser princesas e fadas. Inclusive, é fundamental lembrar da importância dos contos de fada para a elaboração dos conflitos internos, para a organização da nossa existência. As narrativas têm um papel imprescindível na construção da nossa subjetividade.

 

Mas, é necessário destacar que elas são situadas histórica e politicamente, e mais ainda, é importante lembrar o que diz Salman Rushdie, quando afirma: “Ideias, textos, até mesmo pessoas podem se tornar sagradas...mas embora essas entidades, uma vez estabelecida sua sacralidade, busquem proclamar e conservar seu próprio caráter absoluto, sua inviolabilidade, o ato de torná-los sagrados é, na verdade, um evento histórico... E os eventos históricos devem estar sujeitos ao questionamento, à desconstrução, até mesmo à decretação de sua obsolescência (...) (Silva, 1997, p.129). O problema dos Contos de Fada, em especial aqueles produzidos pela Disney, é que eles atuam como Pedagogias Afetivas, definem que identidades são permitidas para as meninas. A questão, portanto, não é querer ser princesa, mas ser a princesa definida pelo patriarcado, um sistema de opressão que privilegia, celebra e promove a mulher que se silencia, que obedece, que anula a si mesma em nome de ser escolhida pelo príncipe, e que reduz a sua existência e os seus projetos de vida ao espaço doméstico.

As imagens congeladas de princesas dóceis e subservientes, que têm como possibilidade identitária para si mesmas, projetos atrelados a serem escolhidas por um príncipe, precisa dar lugar a outras imagens- imagens de fadas e princesas como as que a Rayssa materializou, fadas fortes e corajosas que fazem manobras radicais, princesas que sonham em viajar o mundo ou em se tornarem grandes cientistas, princesas que podem viver plenamente o seu potencial, sem serem constrangidas a se encaixar em expectativas que as limitam. Princesas e fadas que sonhem com tudo isso, e também em casar-se e ter filhos, a partir de uma escolha lúcida, e não em função dos constrangimentos de uma cultura sexista e patriarcal.

 

A infância é um terreno sobre o qual todos nós seguiremos caminhando pelo resto de nossas vidas. Promover projetos pedagógicos voltados às relações de gênero não significa desprezar que a infância é o momento para estimular a imaginação, a criatividade, os sonhos, apresentar o que a vida tem de bonito. Não podemos parar de contar histórias para as meninas e para os meninos, mas precisamos cuidar de que o conteúdo que estamos levando para eles e elas não esteja a serviço de aspectos negativos da nossa cultura. Como nos adverte Silva (1997), “(...) a Pedagogia é uma prática cultural que deve ser responsabilizada ética e politicamente pelas estórias que produz, pelas asserções que faz sobre as memórias sociais e pelas imagens de futuro que considera legítimas.” Se queremos um futuro em que as meninas tenham uma vida plena, livre de violências, e em que os meninos sejam capazes de promover masculinidades insurgentes, que se recusem à desumanização promovida pelas masculinidades hegemônicas, tóxicas, precisamos nutrir a infância de narrativas que anunciem este futuro.

Referências bibliográficas:

Silva. Praticando estudos culturais nas faculdades de educação. In: SILVA, Tomaz Tadeu (Org.). Alienígenas na sala de aula- uma introdução aos estudos culturais em educação. Ed. Vozes. 11º ed. Petrópolis. RJ, 2013.

PEDAGOGIA DO ENCANTO

Por que o experimento é tão legal?

Pedagogia do Encanto
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Flávia Pereira Lima

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Formada em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Viçosa e doutora em Recursos Naturais do Cerrado pela Universidade Estadual de Goiás. É professora no Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada à Educação da Universidade Federal de Goiás. Seu maior desejo: que suas alunas e seus alunos compreendam a beleza de ler e explicar o mundo por meio do conhecimento científico.

Resgate na sua memória alguma atividade de ciências do seu ensino fundamental que você tenha gostado muito. Ouso supor que muitas pessoas se recordam das aulas com experimentos, seja o do feijão no algodão, o do filtro construído com camadas de pedras e areia, ou o do ovo passando pelo gargalo da garrafa.

As atividades experimentais são marcantes na vida escolar. Foram inúmeras as vezes que entrei na sala de aula e escutei “Professora, hoje tem experimento?”. Lembro-me de uma vez que fiquei afastada da escola porque cai e quebrei o pé e minha colega pediu que as meninas e os meninos me enviassem cartinhas. Diante de tamanho carinho, algo me chamou atenção: a frequência de pedidos para que eu retornasse pois sentiam falta de fazer experimentos na escola!

 

O que há por trás das atividades experimentais que promove o engajamento, atiça a curiosidade e o desejo de aprender? Acredito que a potência delas está em uma série de fatores:

  • A sala se mexe: durante a atividade experimental manipulativas, ou seja, aquelas que os estudantes realizam o experimento, grupos se formam, a sala se move, carteiras mudam de lugar. A estrutura se reconfigura para uma atividade mais dinâmica, que necessita da participação ativa dos estudantes.

  • Mão na massa: os experimentos manipulativos permitem que os estudantes se envolvam ativamente na realização da atividade e na coleta de dados. Entendo que os experimentos demonstrativos têm seu valor, principalmente com crianças menores e quando há escassez de recursos, mas sempre que possível deve-se priorizar os primeiros. Atividades experimentais bem conduzidas são estratégias que promovem a aprendizagem ativa.

  • Algo acontecendo na sua frente: é muito encantador ver o resultado de um experimento conduzido pelo grupo acontecer diante dos olhos ou ao longo de dias de observação. Coletar dados e realizar observações é de fato propor-se a interagir com o fenômeno estudado e não apenas receber informações de segunda mão sobre ele.

  • Debate: discutir os resultados encontrados, inclusive as diferenças entre grupos, promove um engajamento espetacular dos estudantes. Analisar as descobertas, construir conceitos científicos e usar os dados para explicar os fenômenos estudados é garantia de conversa, reflexão e aprendizado. Os conhecimentos e habilidades desenvolvidas durante uma atividade experimental são mais importantes do que o resultado em si.

  • Protagonismo no planejamento e condução: numa abordagem investigativa os experimentos são uma importante atividade na coleta de evidências para se responder ao problema da pesquisa. Eles podem ser protagonistas no planejamento, condução e análise dos dados gerados pelo procedimento.

 

Sabemos que os experimentos na escola são mais relacionados à área de Ciências da Natureza, mas todos esses pontos levantados podem ser alcançados em qualquer disciplina. A análise de fontes históricas realizada em grupo; situações-problema envolvendo cálculos; a elaboração coletiva de um texto informativo são exemplos de atividades que podem promover o engajamento e o desejo de aprender como fazem os experimentos. Portanto, a potência de atividades experimentais não está nelas em si, mas na capacidade de promoverem uma aprendizagem ativa, criativa e estimulante.

 

Vale ressaltar que toda essa conversa se dá sob a perspectiva investigativa e não se aplica às atividades experimentais baseadas na mera reprodução. Além disso, o desejo pelo experimento deve ser despertado pelas possibilidades de aprendizagens que ele suscita, não pela espetacularização promovida. Não nego que é muito interessante observar mudanças de cores, transformações, fumaça aparecendo, mas não está nisso a relevância pedagógica do experimento. Vale também reforçar que atividades experimentais podem ser realizadas com materiais simples, daqueles encontrados na cozinha de nossas casas, e que não há exigência de laboratórios para que sejam realizadas.

 

Então por que o experimento é tão legal? Porque dá vontade de fazer! E quando a gente faz algo querendo é bem maior a chance de aprender e gostar.

COMPAIXÃO NA ESCOLA

Por uma escuta empática e um "tudo bem" genuíno

Compaixão na Escola
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Eduardo Pacifico

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Fundador e Diretor da ONG Gaia+. Ecólogo, mestre e doutor em Ciências Ambientais, criou e realizou projetos de habilidades socioemocionais com milhares de crianças e professores em todo o Brasil.

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Valentin Conde

Coordenador de projetos no Instituto Sidarta, professor de práticas contemplativas para a infância, Pedagogo formado pela PUC-SP e mestre em ciências da religião com ênfase em estudos budistas pela Fo Guang University de Taiwan. Pós-graduado em Gestão Emocional nas Organizações pelo Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Albert Einstein.

Oi, tudo bem? A pergunta é verdadeira: tudo bem com você?

 

Você concorda que o bom e velho “Tudo bem?” se tornou uma pergunta vazia, apenas parte de um rito social despretensioso? Quando será que isso ocorreu? Talvez essa seja uma daquelas perguntas praticamente impossíveis de se responder, tipo “Quem veio primeiro, o ovo ou a galinha?”. O fato é que numa rotina acelerada como essa que vivemos nos grandes centros urbanos é difícil cultivar uma escuta consciente, acolhedora.

 

Imagine a cena. Um supermercado no centro da cidade no horário de pico. Um homem apressado passa suas mercadorias na esteira do caixa e, nesse momento, a funcionária cumprimenta com um: Boa noite! Como vai? O homem responde prontamente: Não, obrigado. Já passando as compras do homem e confusa com a resposta, a funcionária pergunta novamente: Como vai? Posso te ajudar? O homem, também confuso, repete: Não, eu não quero o meu CPF na nota. A funcionária sorri e responde: Ok, senhor.

 

Talvez o homem pareça rude e mal-educado, mas na realidade, muito provavelmente, ele apenas estava operando no automático e infelizmente não esperamos que um estranho se interesse por nós de forma genuína. As relações estão bastante automatizadas em nome da praticidade. Nome, RG, CPF e assim por diante.

 

Para além disso, desde cedo, na escola, somos avaliados por nossas habilidades de comunicação relacionadas à expressão oral, eloquência e argumentação. Estudantes bem desenvoltos nessas habilidades conseguem bons resultados e são capazes de dominar conversas, apresentações e trabalhos em grupo. Um dos livros mais vendidos de todos os tempos é uma demonstração disso. Como fazer amigos e influenciar pessoas, de Dale Carnegie, foi lançado em 1936 nos EUA e cita experiências de celebridades com perfil extrovertido e dominante como exemplo de sucesso. Décadas depois, essa lógica ainda se mostra predominante com a ascensão dos influencers. No início de 2021, uma pesquisa mostrou que 86% dos jovens estadunidenses desejam ser influencers nas redes sociais.

 

Mas será que você já parou para se perguntar... No meio desse monte de gente querendo falar e influenciar, quem ouve? Contraditoriamente, não aprendemos a ouvir (pelo menos não intencionalmente) e nem somos avaliados por nossa capacidade de escuta. Não parece haver muita gente interessada em ouvir o que está sendo dito, pelo menos não de forma sensível e humana. O fato é que quando comunicar é mais sobre uma prática comercial do que experiência humana, é difícil pensar na escuta como um elemento ativo no processo. A capacidade de ouvir é diuturnamente considerada uma habilidade passiva e menos importante do que saber se expressar bem.

 

No lugar de educadores, podemos fazer boas perguntas a partir desse tema: Como a escuta pode contribuir para nossas salas de aula? Como podemos cultivar as habilidades relacionadas à ela? E, finalmente, como podemos avançar para uma escuta empática, mais centrada nas perspectivas do outro e desprendida de nossos pontos de vista? Adoraríamos te ouvir!

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O que vem por aí

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LGBTQIA+ na escola:

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14 de setembro

Relacionamento professor-aluno

na pandemia

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