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Que comecem as férias escolares: você sabe descansar?

Hora do Café

Edição N.º 18 - Julho de 2022

Enfim, julho chegou. O tão sonhado mês das férias escolares! Não são poucos os dias que a gente passa no ano, torcendo para que as férias cheguem logo e sonhando com nossos dias de descanso do trabalho, não é verdade? No entanto, eu tenho uma pergunta importante para você que é docente: você sabe descansar nos dias em que fica longe da escola? Parece simples, mas, na atual sociedade em que vivemos, descansar não é exatamente fácil. Muitas pessoas acabam passando boa parte do período de férias se forçando a aproveitar cada minuto, tentando fazer esses dias serem produtivos, e, no final, não sentem que descansaram. Você conhece alguém assim?


“As férias existem para a gente se desvincular da rotina, principalmente quando estamos em um trabalho que exige muita energia”, lembra o psicólogo Hudson Silva, especialista em Saúde Mental e Psiquiatria. “E o recado vai, principalmente, para aquelas pessoas tarefeiras, que estão sempre fazendo muitas coisas e não param: é importante perceber que você pode, sim, não fazer nada e tudo bem. O tal do não fazer nada é importante, é restaurador”, explica o especialista.




Em clínica, Hudson atende muitos jovens profissionais. Além disso, trabalhou em um projeto da Universidade de São Paulo, focado no acolhimento a estudantes universitários. Diante da sua experiência, percebeu que existe um perfil de pessoas que não tem facilidade em curtir seus horários livres. 

“Algumas das pessoas que já atendi tinham essa demanda: tinham dias livres, horários livres e não sabiam o que fazer com isso. Diante dessa falta de sabedoria nos momentos de descanso, essas pessoas iam em busca de mais trabalho, de encontrar mais demanda para lidar”, revela ele. “Muitas vezes, uma terapia pode se pautar em ajudar a pessoa a se desligar. Desligar dos problemas, do trabalho, da organização... O espaço de descanso, muitas vezes, não é o não fazer nada, mas é um espaço de lazer, de brincar, uma forma menos rígida e menos pesada de lidar com os dias”, pontua.

“Já atendi um caso, inclusive, de uma pessoa que teve um episódio de transtorno de pânico e uma das questões que pode ter promovido essa situação foi o esgotamento. No caso, não do trabalho institucional, mas do trabalho doméstico. E, aqui, a gente vê a importância de se tirar férias, inclusive do trabalho doméstico”, ressalta Hudson. Você já parou para pensar nisso?

 

Segundo o psicólogo, as férias têm uma importância, inclusive, biológica pra gente. “A nossa vida psíquica funciona de forma cíclica. A nossa natureza é cíclica: a gente acorda e dorme; a gente fica um período sem comer, de jejum, depois come de novo. E isso se dá também no trabalho: você vai dedicar energia para o seu trabalho e, naturalmente, vai chegar a um momento de cansaço, de falta de energia, que precisa ser acolhido, esse é o momento do descanso. As férias se encaixam nesse ciclo natural do ser humano”, comenta.

 

“Esse ciclo de esforço e descanso, que faz parte dos animais, se repete, e não só de forma anual ou semestral, mas de forma semanal. Daí vem a importância do final de semana, das folgas semanais, que são como miniférias. A gente sabe que é fundamental ter ao menos um ou dois dias de descanso na nossa semana”, ressalta o psicólogo. E, professores, convenhamos: nem sempre a gente consegue descansar aos finais de semana, não é mesmo? Logo, imagine como nosso corpo precisa do descanso que

podemos ter nas férias escolares!

 

Saber descansar e diversificar a nossa vida

 

Uma sugestão para aquelas pessoas que são superativas e possuem dificuldade em passar dias sem muitos objetivos é diversificar a própria vida no período das férias. “Algumas pessoas tiram férias e se envolvem em outros trabalhos, mas trabalhos de outra natureza. São desafios, e essa é uma maneira que essas pessoas encontram de desfrutar, de brincar”, lembra Hudson. “Se for leve, isso é super válido e tem a ver com um princípio fundamental da vida psíquica, que é a busca pelo prazer”, comenta.

“A verdade é que a gente necessita de um tempo de descanso de tudo, inclusive das pessoas. É preciso tirar folga das coisas, das pessoas, do trabalho, de atividades que a gente está debruçado… E como a gente faz isso? Buscando outros lugares, outras relações, ou seja, diversificando o nosso universo”, sugere o psicólogo.

“Um professor pode fazer um curso de férias, um retiro, aprender outra língua, aprender a plantar, viajar, enfim… Criar outros vínculos, diversificar a sua vida. Talvez, até mesmo mudar de papel: virar aluno por um tempo. Ou, da posição de pai, ser um pouco mais filho, passar um tempo com os próprios pais. Os neurocientistas defendem isso: diversificar e aprender atividades novas tornam as nossas conexões neuronais mais flexíveis”, conclui.

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