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Não é de hoje: psicóloga destaca urgência em lidar com violência nas escolas sob uma ótica preventiva

Tema, que não é novo, exige uma abordagem sistêmica, que envolva não só a escola, mas também a família, os meios de comunicação e a sociedade em geral

Hora do Café

Edição N.º 27, Abril de 2023

Trabalhar com educação nunca foi fácil, mas alguns dias são mais difíceis que outros. Diante dos recentes ataques e ameaças registrados em escolas, como o ocorrido na escola estadual Thomazia Montoro, no bairro Vila Sônia, em São Paulo, a preocupação com a segurança dos professores se tornou ainda mais urgente. Além disso, se faz cada vez mais inadiável o cuidado com a saúde mental de todos que compõem a comunidade escolar. Olha só que preocupante: segundo a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP-SP), 48 horas após o ataque, sete boletins de ocorrência, com planos de adolescentes que pretendiam realizar atentados semelhantes em ambiente escolar, foram registrados. O que isso significa para nós, professores? Como acordar todos os dias prontos para trabalhar?





A revista Fique Bem existe desde janeiro de 2021 e, por aqui, sempre tratamos de discutir a saúde mental nas escolas, com foco no bem-estar do professor. Contudo, a gente sabe que essa pauta não é sempre levantada em todos os ambientes. Pelo menos, não até que uma tragédia aconteça. "Mas será que nós precisamos passar por escândalos como esses para que venha a ser feita alguma coisa? Não seria melhor fazer um trabalho preventivo, ao invés de ficar nomeando o professor como super-herói na televisão depois de cenas como a que vimos nos últimos dias?". A fala é da psicóloga Izabel Herrera, nossa convidada dessa Hora do Café. 


Segundo a especialista, para falar de violência nas escolas, é preciso uma abordagem sistêmica, que envolva não só a escola, mas também a família, os meios de comunicação e a sociedade em geral. "Não é de hoje que os professores trazem questões sobre estarem observando, nas crianças e nos adolescentes, um cenário bastante caótico, em que não há respeito, em que há uma ausência de compromisso com a própria vida e com o próprio estudo", afirma a psicóloga. "Os professores chegam a ficar impotentes diante dessas situações e a gente sabe que nós temos que nos comprometer dentro da nossa individualidade, mas isso é macro. Tem a ver com políticas públicas em educação e políticas públicas em saúde", continua.


Izabel defende que a presença de um psicólogo dentro das escolas públicas seria positiva tanto para os professores quanto para os estudantes, mas que a questão também não se resume a essa solução. "As escolas estão se tornando um ambiente extremamente adoecido, e não adianta buscar os culpados ali dentro. Não são os professores, os diretores, os jovens… a gente tem que observar o todo. Não adianta, por exemplo, colocar o menino como assassino e dizer que é um caso isolado", reforça. "Uma pessoa de treze anos ainda não tem a parte neurológica dele amadurecida. Se ele promoveu algo tão grave assim, então o que está acontecendo com essa criança? O que sustenta um comportamento como esse? A que mundo ele está sendo submetido? A que discursos?", questiona. 


A importância do acolhimento e da união


Quando Izabel se depara com professores que trazem essas questões para ela, procura focar no acolhimento desses profissionais. "Tem uma historinha que eu uso muito que é assim: um senhor andando na praia devolvia as estrelinhas pro mar, e aí uma moça, passando por ele, falou: 'Nossa, o senhor pretende salvar tudo isso que está aqui, esses quilômetros de natureza, devolvendo essa estrela?' Ele falou: 'Não, minha filha, mas, pra essa estrelinha, eu fiz a diferença", conclui a psicóloga.





A mensagem é clara até para o mais desmotivado dos profissionais: mesmo que o impacto de um professor seja em apenas um aluno, é importante reconhecer que essa influência pode ser significativa, duradoura e transformadora para toda uma família ou sociedade. Afinal, é isso que nos motiva a continuar exercendo o nosso trabalho com excelência, não é?


"Quando eu começo a possibilitar que os professores me tragam suas dores e desafios na fala, uma coisa eles estão: elaborando aquele sofrimento que talvez não tenha um espaço de escuta em nenhum outro espaço", comenta Izabel. "Se a gente fica guardando tudo aqui dentro, nós somos os próprios receptáculos das nossas próprias angústias. E isso sim pode causar muito sofrimento. A gente pode se perder, ter uma crise de pânico, que é o que está acontecendo com muitos professores. Muitos deles chegam em mim já falando de múltiplos sintomas, mas é preciso ter essa escuta antes mesmo que eles adoeçam", compartilha ela.


"Compartilhar sofrimento é diferente de você carregar ele sozinho. Quando eu compartilho uma angústia, ela se torna uma angústia que tem possibilidade de elaboração. A gente se sente pertencido, valorizado", finaliza a psicóloga. E aqui deixamos mais uma vez o nosso convite a você, professor: entre em contato com a nossa rede e sinta-se acolhido pelos professores do Fique Bem. Quanto mais unidos estivermos, mais fácil ficará a nossa prática e a nossa relação com os desafios da educação.

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